"Toda criança do mundo
O que a criança gosta de ler? Ela é que sabe. Cada criança é diferente das outras, tem vivência diferente, inteligência diferente, aptidões diferentes, constituição física diferente. O escritor escreve o que lhe apraz, o que lhe agrada, o que ele quer transmitir. O leitor escolhe de acordo com sua vontade.
Com tantos livros escritos, sentiu saudade de algum depois que terminou? Cada livro nos marca de uma maneira diferente e especial, mas não sinto saudade de nenhum, pois o importante mesmo não é escrever, é ter escrito.
Como é o seu processo de criação? Não sei explicar meu processo de criação, mas tem tudo a ver com leitura, conversa e alimentação pela arte e pela mídia. Conhecer crianças é o maior estímulo para meu trabalho.
O que pode fazer o escritor, a família, a escola, para que ler rime com prazer e não com obrigação? Fórmula conhecida: valorização da criança, da cultura, do conhecimento, da escola, do professor, da educação, dar exemplo: ler mais. Ter sossego em casa. Ter livros. Comprar, escolher, comentar. Verificar cuidadosamente as condições físicas e psicológicas da criança. Visão, ouvido, coordenação. Verificar se a criança fala bem. Conversar com ela. Falar e ouvir. Discutir pequenos problemas com lógica, sem emoção. Fazer da hora da conversa uma coisa prazerosa. Acompanhar com boa vontade, e visitar o médico quando necessário, o desenvolvimento da criança. Observar com carinho os eventos que possam causar problemas para a ela: dificuldades financeiras e conjugais dos pais; problemas de saúde da família; mortes, separações, traumas como assalto; rivalidade com irmãos, nascimento de outra criança na família. Jamais deixar a criança desamparada diante de violências. Principalmente da própria família. Amar seus filhos. A todos, igualmente, sem estimular competição pelo afeto dos pais.
Você adaptou a Odisséia, de Homero, para crianças, e seu marido, Eduardo, fez as ilustrações. Como foi? Como é trabalhar em família? Acho ótimo adaptar obras. E o fato de adaptá-las me dá a oportunidade de conhecê-las melhor e de amá-las ainda mais. O trabalho com Eduardo foi muito divertido.
Que tal adaptar Machado, Guimarães ou Graciliano? Não acho que esses autores tenham a distância necessária no tempo para precisar de adaptação. Além disso, são escritores do português e pertencem à nossa própria cultura.
Fale sobre a cadeira 38 da Academia Paulista de Letras. Como ficou sabendo da indicação e da votação? Fui convidada por alguns amigos da Academia, um dos quais o Loyola. Achei honroso e aceitei. É uma espécie de coroamento e a oportunidade de conhecer pessoas ilustres que eu ainda não conhecia.
Que títulos e autores foram importantes na sua formação? O autor mais importante na minha formação foi Monteiro Lobato. Além dele, reconheço a influência da poesia popular, das histórias que meu avô contava, dos livros que minha mãe leu para mim, das poesias que meu avô e minha mãe recitavam, das músicas que as lavadeiras cantavam. Como já disse antes, a leitura é o alimento do escritor. Mário de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Manuel Bandeira, Guimarães Rosa etc., etc., etc. Li muitos, literatura francesa, inglesa, alemã, adoro a literatura portuguesa: Fernando Pessoa, Saramago, Eça de Queiroz, Miguel Torga etc.
O que tem lido agora? Leio muito atualmente sobre o Brasil, política, história, sociologia.
O que acha da educação dos pequenos hoje no Brasil? Lamentável em geral. Fora algumas ilhas de excelência, escolares ou familiares, o resto é lamentável, inclusive as manifestações da sociedade como um todo.
Poderia definir o que é cultura? Cultura é isso: a cultura acadêmica, bem temperada com a vida cotidiana. Com as influências familiares, com o entorno social, os amigos, a música, as artes, as festas, a comida, a cultura popular. ©
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